Tem momentos em nossas vidas que ficamos
perdidos e sem rumo certo para seguir em frente. E foi nesses pequenos
instantes que vi o mundo desabar. Tudo ficou sombrio e sem cor. A dor
era tão grande que tentei diversas vezes o suicídio,
mas logo percebi que não precisaria de muito esforço, pois já estava num
estágio avançado de amargura e solidão. Vocês devem estar se
perguntando se todos a minha volta me abandonaram, mas sinto lhe
informar que não foi bem assim, nunca foi. Na verdade “EU” que me
afastei das pessoas, lembro-me que maltratei quem mais me amava.
Entretanto, estava cega de rancor e não consegui enxergar o sofrimento desses seres a me ver nesse estado lastimável. Vivia culpando o mundo pela tristeza que se alastrava por onde andava.
Mas nem andei muito nesse período, aliás, fiquei tão sedentária
que engordei bastante e fui alvo de piadinhas e brincadeiras fúteis na
adolescência. Isso foi o ápice, a alavanca principal para me excluir de
vez do mundo social. Não saia de casa, chorava o dia inteiro e ainda era
vista como estranha, pelos demais habitantes que não conheciam a causa
do meu sofrimento. Sim, a causa que nem eu mesma sabia explicar. Alguns
diziam que a depressão era coisa de gente fresca, que não era pra tanto.
Uma coisinha simples de quem não tinha o que fazer.
Escutar essas coisas me destruiu ainda
mais. Tinha dias que ia para escola obrigada, brigada comigo mesma.
Brigada com todos e por todos, mas é fácil julgar não é verdade. É fácil
achar desculpas e encontrei milhares delas por todos os cantos daquelas
ruas de chão batido e casas simples perto de onde estudava. Já estava
decidida a dar um fim em tudo, não queria mais caminhar. Meus pés
estavam cansados de andar sozinha, mas não estava sozinha e a vida me
provou isso. No entanto, me provou da pior forma possível, mas precisava
disso para acordar desse pesadelo que criei.
Minha querida e amável vó ficou louca.
Sim, esse foi o nome dado pelos “infelizes” que também me julgavam. Aí
sim que foi sofrimento, minha mãe não sabia se cuidava de mim ou dela.
Sim “CUIDAR”, para que nenhuma das duas cometesse o ato mais difícil e
complicado que é tirar a própria vida. Ia todos os dias a casa dela,
para não ficar só no meu quarto escuro, remoendo pequenos problemas. E
foi num desses dias que enfim acordei para a vida, acordei arranhada e
machucada, mas acordei. Ana enfiou as garras em mim, então percebi que
outras pessoas também estavam na mesma ou em situações piores que a
minha. E foi assim que encontrei sentido na dor.
Sim, foi na dor que aprendi a ser forte.
Dei a volta por cima e ajudei aonde podia minha vó. Hoje percebo que as
coisas não acontecem por acaso, percebo que o mundo não é culpado por
suas frustrações e que só o amor pode superar todos os obstáculos e foi
através dele que reconheci o poder de ajudar ao invés de somente odiar e
deixar as coisas morrerem por sua própria força.